Fibrilação Atrial: Tudo que você precisa saber sobre essa arritmia cardíaca
A fibrilação atrial é uma condição cardíaca que afeta milhões de pessoas no mundo e, infelizmente, também tem uma alta incidência em diversos países, inclusive no Brasil.
A fibrilação atrial é a arritmia cardíaca mais comum, caracterizada por uma atividade elétrica desorganizada no átrio (parte alta do coração), que resulta em um batimento irregular e, muitas vezes, acelerado do coração.
Existe uma falta de sincronia entre as quatro câmaras cardíadas, atrapalhando o fluxo natural do sangue entre átrios (parte alta) e ventrículos (parte baixa).

Enquanto outras arritmias podem ocasionar batimentos anormais também, a fibrilação atrial se diferencia por sua persistência e pelo risco aumentado de complicações.
Dentre outras, a principal é a formação de coágulos no coração que em algum momento podem se soltar e parar em qualquer parte do corpo, entupindo alguma artéria ou veia por exemplo. Nesse caso podemos destacar AVC, Trombose e Embolia Pulmonar como possíveis consequências, a depender de onde esse coágulo vai parar.
Quais os sintomas da Fibrilação Atrial?
A maioria dos pacientes com a fibrilação atrial, quando se mantêm com os batimentos controlados, raramente têm sintomas, mas permanecem com o risco de complicações como eventro tromboembólicos, mesmo na ausência de sintomas.
Os sintomas podem variar entre os indivíduos, e existem pessoas que sequer tem o sintoma, mas convivem com a FA (fibrilação atrial), mas os principais sintomas incluem (e normalmente ocorrem quando os batimentos aceleram):
- Palpitações: Sensação de batimentos cardíacos acelerados, irregulares ou “descompassados”.
- Fadiga e Fraqueza: Sensação de cansaço, mesmo sem esforços intensos.
- Tontura ou Desmaios: Pode ocorrer devido à dificuldade de levar sangue eficientemente ao cérebro e outras partes do corpo, principalmente quanto os batimentos estão muito acelerados.
- Falta de Ar: Sensação de dificuldade para respirar, principalmente durante atividades físicas, onde os batimentos aceleram muito.
- Desconforto no Peito: Pode apresentar dor ou aperto no peito, embora nem todos os pacientes relatem esse sintoma.
Lembre-se que a intensidade desses sintomas varia; enquanto algumas pessoas podem sentir leves desconfortos, outras podem ter sintomas mais pronunciados, e outras podem não ter sintoma algum.
Quais as causas da Fibrilação Atrial?
A fibrilação atrial pode ser desencadeada ou agravada por diversos fatores, e existem pacientes sem nenhuma causa diretamente justificável.
Algumas delas são:
- Idade Avançada: A incidência aumenta significativamente após os 60 anos.
- Histórico Familiar: A predisposição genética pode aumentar o risco.
- Hipertensão e Doenças Cardíacas Subjacentes: Condições como insuficiência cardíaca e cardiopatias isquêmicas.
- Outras Condições de Saúde: Diabetes, obesidade, apneia do sono e doenças da tireoide.
- Estilo de Vida: Consumo excessivo de álcool, estresse elevado e sedentarismo.
Esses fatores agem em conjunto e podem predispor o coração a desenvolver a desorganização elétrica típica da fibrilação atrial.
Por que tratar, e quais as metas do tratamento?
Temos que entender que existem duas linhas de pensamento no tratamento quando pensamos na fibrilação atrial.

A primeira é tratar o sintoma do paciente, o desconforto toda vez que entra em arritmia com batimentos acelerados.
- Aqui inclui tirar o paciente do quadro de arritmia e tentar mante-lo sem novos episódios.
- Ou podemos manter o paciente em arritmia, e controlar os batimentos para que o mesmo não sinta mal.
A segunda é tratar os possíveis riscos e complicações que podem vir com essa arritmia. Além dos trombos / coágulos que podem causar AVC, trombose, embolia pulmonar, existem ainda as deformidades cardíacas a longo prazo.
Quando não gerenciada adequadamente, a fibrilação atrial pode levar a complicações sérias:
- Aumento do Risco de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi): A formação de coágulos no coração pode em algum momento se soltar e levar à obstrução das artérias cerebrais.
- Insuficiência Cardíaca: Os batimentos do coração frequentemente acelerado podem agravar ou levar ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca por taquicardiomiopatia.
- Comprometimento da Qualidade de Vida: Sintomas constantes podem prejudicar a rotina diária, limitar atividades e afetar o bem-estar emocional. Imagine estar viajando, ou dormindo, acordar com mal estar e ter que ir para o hospital toda vez.
É fundamental que pacientes com suspeita ou diagnóstico de fibrilação atrial realizem acompanhamento médico regular para evitar complicações.
Como é feito o Diagnóstico?
O diagnóstico normalmente inclui exame de monitorização eletrocardiográfica.

As formas mais comuns são fazendo um Eletrocardiograma por exemplo numa consulta de rotina, ou quando se sentir mal e for até o hospital. Lembrando que a arritmia pode acontecer e se resolver sozinha em alguns minutos por exemplo. Porém ela tende a retornar mais vezes, inclusive sem sintomas.
Outra maneira é com monitorização de mais longa duração como Holter ou Looper implantável (mais invasivo).
O holter nada mais é do que um eletrocardiograma de longa duração, podendo manter o paciente monitorizado por 24h ou mais.

Na clínica disponho de aparelho que é possível fazer um exame personalizado de 24h até 07 dias consecultivos, sem fios, podendo o paciente tomar banho normalmente nesse período.
Outra forma de detecção é com estimulação por exemplo no teste ergométrico, principalmente em pacientes que sentem a palpitação diferente durante atividade física, onde o gatilho de adrenalina existe em maior expressão.
Tratamento da Fibrilação Atrial
O tratamento da fibrilação atrial é multidisciplinar e deve ser adaptado ao cenário de cada paciente, considerando a gravidade dos sintomas e a presença de outras condições e podem divergir muito de um paciente para outro. As principais abordagens incluem:
Medicações:
- Anticoagulantes para prevenir a formação de coágulos / trombos.
- Antiarrítmicos para controlar e estabilizar o ritmo cardíaco (controle de ritmo).
- Betabloqueadores ou bloqueadores dos canais de cálcio para reduzir a frequência cardíaca (controle de frequência).
Procedimentos Médicos:
- Cardioversão elétrica: Procedimento para restaurar o ritmo sinusal normal por meio de um choque utilizando um cardiodesfibrilador, no hospital.
- Ablação por cateter: Técnica que visa “queimar” áreas do tecido cardíaco responsáveis pelos sinais elétricos anormais. É um procedimento invasivo feito com equipe de eletrofisiologia, seja ela eletricamente ou por congelamento (crioablação).
- Mudanças no Estilo de Vida:
- Adoção de uma dieta balanceada e prática regular de exercícios físicos.
- Redução do consumo de álcool e tabaco.
- Controle de fatores de estresse e acompanhamento de condições médicas associadas, como hipertensão e diabetes.
Estatísticas e Parâmetros Nacionais
É difícil ter dados completos com extrema exatidão, pois ainda temos muitos pacientes andando por aí com fibrilação atrial, assintomáticos e que não sabem que tem a doença.
A prevalência global de FA varia significativamente, situando-se entre 0,1% e 4% da população mundial. Essa variação depende de fatores como idade, etnia e a presença de outras condições de saúde. (2024 ESC Guidelines)
Estima-se que, em 2019, cerca de 59,7 milhões de pessoas no mundo viviam com fibrilação atrial. (Global Burden of Disease Study, 2019)
No Brasil, estima-se que até 5 milhões (ou aproximadamente 1-2% da população) de pessoas tenham fibrilação atrial (FA), uma arritmia cardíaca que se caracteriza por um batimento irregular e acelerado do coração. A prevalência da FA aumenta com a idade.
O Ministério da Saúde e sociedades de cardiologia como SBC e Socesp, têm enfatizado a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
Estudos também indicam uma alta taxa de hospitalizações e internações relacionadas a complicações da fibrilação atrial, reforçando a necessidade de campanhas de conscientização e prevenção.
Educação e Prevenção
A melhor forma de combater a fibrilação atrial é através da educação e prevenção. Algumas orientações úteis são:
- Realizar Check-ups Regulares: Monitoramento da pressão arterial, níveis de colesterol e avaliação cardíaca periódica.
- Adotar um Estilo de Vida Saudável: Praticar atividades físicas, manter uma alimentação equilibrada e evitar o consumo excessivo de álcool.
- Gerenciar o Estresse: Técnicas de relaxamento, meditação e atividades que promovam o bem-estar emocional.
- Conhecer os Sinais de Alerta: Informar-se sobre os sintomas e buscar auxílio médico imediatamente se notar qualquer anormalidade.

Essas ações não só ajudam a reduzir o risco de fibrilação atrial, mas a detecção precoce e início de tratamento. O impacto é tão grande que hoje a maioria dos smartwatchs vem com tecnologia para detecção de Fibrilação Atrial. Já leu que seu relógio novo consegue rodar um eletrocardiograma? Embora seja simples e apenas um traçado, a função é justamente ajudar a identificar pacientes com fibrilação atrial.
Novas Abordagens e Pesquisas Recentes
A cada ano, avanços significativos são feitos no entendimento e no tratamento da fibrilação atrial. Algumas das iniciativas recentes incluem:
- Tecnologia e Monitoramento Remoto: Com o uso de dispositivos vestíveis (wearables) e aplicativos de saúde, é possível monitorar o ritmo cardíaco em tempo real, promovendo a detecção precoce de irregularidades e permitindo intervenções rápidas.
- Inovações em Procedimentos Invasivos: O aprimoramento das técnicas de ablação e a introdução de novas tecnologias minimamente invasivas têm aumentado as taxas de sucesso no controle dos sintomas e na prevenção de complicações.
- Estudos Clínicos: Diversos estudos têm investigado o impacto de novas medicações e combinações de tratamentos, buscando reduzir os riscos de eventos adversos, como AVC e insuficiência cardíaca, e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
- Atualizações nos critérios para indicação de anticoagulação, com refinamento do escore CHA₂DS₂-VASc.
- Novas recomendações relativas à escolha entre controle de ritmo versus controle de frequência, considerando as características individuais do paciente.
- Melhoria nas técnicas de ablação, com destaque para abordagens híbridas e minimamente invasivas.
- Incremento dos protocolos para avaliação e seleção de candidatos a procedimentos invasivos.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Para ajudar a esclarecer dúvidas comuns, elaboramos uma sessão com perguntas frequentes:
A fibrilação atrial pode ser revertida completamente?
- Em alguns casos, tratamentos como a cardioversão elétrica e a ablação por cateter podem restaurar o ritmo sinusal normal. No entanto, a recorrência pode ocorrer e o acompanhamento a longo prazo é essencial.
- Sempre precisamos entender e investigar o porque o paciente tem fibrilação atrial, seus hábitos de vida, doenças de base, características cardíacas para então termos uma melhor resposta.
E é muita coisa, não? Daria pra cuidar bem de tudo isso em 10 minutos?

Cardiologia em Limeira – SP
O Dr. Rafael Rosa atua em Cardiologia. Você deve ser o maior conhecedor do seu corpo e dos seus problemas, e merece ser cuidado com atenção, com tempo e carinho adequados.
O Dr. Rafael Rosa atua em Cardiologia. Você deve ser o maior conhecedor do seu corpo e dos seus problemas, e merece ser cuidado com atenção, com tempo e carinho adequados.
Com experiência mista em urgência e emergência desde 2013, e atuando na área cardiológica desde 2019 nos setores da cardiologia, unidade de terapia intensiva cardíaca na Santa Casa de Limeira. Associado a isso, a união
Referências:
Panorama epidemiológico das internações por Flutter e Fibrilação Atrial no Brasil nos últimos anos.
Diretrizes ESC 2024 para o tratamento da fibrilação atrial.
II Diretriz Brasileira de Fibrilação Atrial – SBC 2016.