Dr. Rafael Rosa

Os Cuidados da Mulher e do Homem, são Iguais?

Entendendo um Pouco Mais Sobre a Relação com o Sexo Feminino.

Que nós sabemos que as doenças cardiovasculares são as principais causas de mortalidade no mundo, nos já sabemos. Mas porque não é tão comum vermos mulheres mais jovens com complicações cardíacas quanto os homens? É fundamental entender a importância da Saúde Cardiovascular da Mulher para abordar essas questões. O foco na Saúde Cardiovascular da Mulher deve ser uma prioridade em todas as idades, visando a prevenção e o cuidado contínuo.

Dentre vários fatores como um maior autocuidado da mulher em comparação ao homem, em geral dieta mais regular, maior preocupação com a saúde, existe um componente muito importante até certa idade: o “Estrogênio”.

O estrogênio é um hormônio sexual, encontrado tanto em homens quanto mulheres, porém com dosagens muito distintas, normalmente com valores muito mais elevados nas mulheres. Ele participa no desenvolvimento e manutenção das características femininas, como desenvolvimento de mamas, ciclo menstrual, massa óssea, regulação do humor, e de colesterol por exemplo.

Presença e Ausência do Estrogenio na Menopausa e a DAC

Além de todo o citado acima, ele tem um fator protetor muito grande na mulher, e por isso está relacionado a uma diminuição muito grande de eventos cardiovasculares quando comparados aos homens. Porém, após o climatério e menopausa, os riscos aumentam significativamente, sendo crucial monitorar a Saúde Cardiovascular da Mulher nessa fase. A atenção à Saúde Cardiovascular da Mulher é vital para garantir uma vida saudável e ativa.

As Diferentes Faixas Etárias na Saúde da Mulher e os Fatores de Risco Associados:

As diretrizes atuais enfatizam a importância da Saúde Cardiovascular da Mulher, destacando a necessidade de exames regulares e acompanhamento médico, especialmente após a menopausa, quando os riscos cardiovasculares aumentam. A prevenção e o tratamento adequado são essenciais para manter a Saúde Cardiovascular da Mulher em todas as fases da vida.

Mulheres Jovens:

Os cuidados com a Saúde Cardiovascular da Mulher incluem a adoção de um estilo de vida saudável, que envolve alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos regulares e controle do estresse. A Saúde Cardiovascular da Mulher deve ser uma prioridade em todas as consultas médicas.

Risco aumentado para eventos tromboembólicos como trombose e embolia pulmonar, principalmente quando associados a uso de anticoncepcional com terapia combinada (estrogênio + progesterona).

Pacientes com menarca (primeira menstruação) muito cedo, principalmente abaixo dos 10 anos de idade, apresentam um risco aumentado de hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia e doença aterosclerótica.

É necessário que as mulheres estejam sempre atentas à sua Saúde Cardiovascular da Mulher e realizem exames preventivos para identificar possíveis riscos. O autocuidado é fundamental para a prevenção de doenças cardiovasculares.

Mulheres em Transição de Idade Jovem / Média:

Relacionados a gestação: Pacientes com histórico de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, ou parto prematuro aumentam o risco cardiovascular no futuro. Uma atenção à miocardiopatia periparto também é válida, embora em alguns casos haja regressão total da função cardíaca.

Em casos como a miocardiopatia periparto, há um risco de evolução para insuficiência cardíaca, e pode evoluir pra um cenário tão ruim, que se torna contraindicação a paciente tentar engravidar novamente.

Doenças Autoimunes: A presença de doenças como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide são mais frequentes em mulheres, e há uma relação de aumento no risco cardiovascular quando associados com doenças autoimunes.

Mulheres em Transição do Climatério / Menopausa:

Fatores sociais, psicológicos como depressão, ansiedade, podem exercer um aspecto negativo diretamente na qualidade de vida, e na adesão aos tratamentos propostos. Outras alterações como de tireóide também podem atrapalhar ou misturar os sintomas, dificultando a definição da intensidade das queixas relatadas.

A menopausa precoce também está relacionada a maior risco de doença isquêmica cardíaca, hipertensão arterial e dislipidemia. Além do risco aumentado para outras comorbidades, normalmente está relacionado também a maior mortalidade cardiovascular por este aspecto, quando comparado a mulheres que entram na menopausa na idade habitual (entre os 45 aos 55 anos de idade).

Há ainda maior risco no desenvolvimento de Fibrilação Atrial (arritmia com potencial causador de AVC isquemico e insuficiência cardíaca), principalmente com menopausa precoce, antes dos 40 anos de idade.

Sintoma da Menopausa e Alterações de Tireóide

Os Fatores de Risco Tradicionais:

Os pacientes devem ser informados sobre como a Saúde Cardiovascular da Mulher pode ser afetada por condições como hipertensão e diabetes, e a importância do monitoramento contínuo.

Hipertensão Arterial: Após o climatério / menopausa, é comum notarmos um aumento nos valores pressóricos.

Diabetes Mellitus: Após o climatério / menopausa, costuma-se notar uma maior resistência a insulina, elevando o risco de desenvolvimento de diabetes, ou dificultando o controle das já diabéticas.

Dislipidemia: Após o climatério / menopausa, também observamos piora nos níveis de colesterol, com piora do LDL (colesterol ruim) e piora também do HDL (colesterol bom). Não é incomum notarmos valores as vezes muito piores nessa faixa etária quando compararmos com quando a paciente era mais jovem, mesmo sem grandes mudanças no estilo de vida relatados.

Menopausa e os Fatores de Risco Cardiovascular TradicionaisSaúde Cardiovascular da Mulher

Obesidade: Após o climatério / menopausa a distribuição de gordura corporal também muda, normalmente aumentando a gordura abdominal. É comum a mulher nessa fase notar mudanças na forma e nas curvas do corpo, principalmente quando sedentárias.

A Saúde Cardiovascular da Mulher deve ser discutida amplamente, tanto nas consultas médicas quanto nas campanhas de saúde. A conscientização sobre os riscos e a importância da prevenção é crucial para a saúde das mulheres.

Tabagismo: Em toda e qualquer idade o tabagismo isolado já é um fator de risco grande. Seja para jovens, média idade ou pós climatério / menopausa.

As Peculiaridades do Infarto na Mulher:

Sobre os sintomas: Mulheres podem apresentar sintomas atípicos. Nem sempre haverá os sintomas descritos aqui. Ocasionalmente podem apresentar dor mais amena, falta de ar aos esforços, cansaço fora do comum, assim como pode acontecer em diabéticos e doentes renais crônicos.

Investir em conhecimento sobre Saúde Cardiovascular da Mulher é investir na qualidade de vida e no bem-estar geral. As mulheres devem ser encorajadas a buscar informações e esclarecimentos sobre sua saúde.

Sobre o tipo / causas: Dependendo da faixa etária e situação hormonal, nem sempre o infarto é por placa aterosclerótica (formação de placas de gordura / cálcio e inflamação crônica na parede dos vasos). Por exemplo durante a gestação, a causa mais comum de infarto é por dissecção espontânea de coronária).

Características Isquêmicas do Coração da Mulher

Nessa situação, a mudança hormonal, mudança de peso, o infarto é causado porque a artéria se rompe, formando um hematoma / coágulo na parede da artéria, comprimindo a mesma a se fechar, nem sempre totalmente.

Muitos outros casos em idade média e pós menopausa, sofrem com a Síndrome de Takotsubo (ou Síndrome do Coração Partido), que normalmente tem um gatilho emocional ou estressante desencadeador, não havendo obstrução das artérias por placas de gordura, mas causando dano ao coração, ocasionalmente temporárias, porém com risco de complicações graves.

Há ainda um aumento na incidência de outros modos de infartos tipo MINOCA (Miocardial Infarction with Non-Obstructive Coronary Arteries), ou seja, infarto sem obstrução de coronárias por placas ateroscleróticas, como “Espasmo de Coronária, Dissecção Espontânea (já relatado), Embolia ou trombose de coronárias, Doença Microvascular.

Abordagem Terapêutica com Medidas Não Farmacológicas:

Mudanças no Estilo de Vida:

Alimentação balanceada (padrão mediterrâneo ou dieta DASH), prática regular de exercícios aeróbicos e resistidos como musculação ou pilates bem aplicado por pelo menos 150 minutos / semana de atividade física de intensidade moderada (aqui vale lembrar que qualquer atividade física é melhor do que nada), manutenção do peso, do sono e combate ao tabagismo.

Atividade física moderada se enquadraria como uma atividade física regular, caminhar com passo acelerado em torno de 6km/h, musculação mais moderada, sem carga extrema, e dentro do possível mesclar as duas formas de exercício na semana.

Para atividade física de alta intensidade, a forma mais fácil de interpretação seriam esportes de muita movimentação, como tênis, vôlei, beach tennis, corrida, ciclismo por tempo prolongado. Nesse cenário, um mínimo de 100 minutos / semana já trazem benefício cardiovascular.

Deve-se pensar e fazer uso de terapias ou atividades para redução de estresse e instabilidade emocional, com psicologia, atividades com interação interpessoal e de bem-estar, estando a atividade física inclusa também nesse ponto.

Dieta DASH (Dietary Approach to Stop Hypertension):

Dieta DASH

  1. É uma dieta mais voltada para controle de pressão, com componentes benéficos secundários. Inclui uma ingesta maior de fibras, potássio (ao invés do sódio ou sal de cozinha padrão). Além de evitar uma retenção de água maior no corpo, melhora o funcionamento intestinal.
  2. Normalmente fazem parte um maior consumo de frutas, verduras e legumes, grãos integrais, fontes de proteínas mais magras como carnes brancas (frango, peixe), carnes vermelhas magras (cortes com menos gordura entremeada na carne), ovos, leite e derivados com menor gordura (semi ou desnatado, iogurte natural, queijo tipo ricota ou branco).
  3. Melhor escolha nos tipos de gordura, como preferência para o uso de azeite de oliva (cru – não deve ser utilizado na fritura), abacate, nozes, amêndoas, castanhas, e evita-se alimentos ultraprocessados como frituras, margarinas. Outro aspecto muito importante é a quantidade ingerida, que muitas vezes é confundido pelo fato de serem alimentos preferíveis e benéficos, e o paciente abusa nas quantidades.
  4. A priorização de temperos naturais como ervas, especiarias, alho, cebola, ao invés de sal, e no uso, dar preferência ao sal rico em potássio (algumas vezes encontrado como sal light).

Dieta do Mediterrâneo:

Dieta do Mediterrâneo

  1. É uma dieta típica de países banhados pelo mar mediterrâneo. Também tem um foco muito grande na abundância de frutas, legumes e verduras, cereais integrais, o mínimo possível industrializado, azeite de oliva como principal fonte de gordura saudável (lembre-se de utilizar cru preferencialmente).
  2. Em relação a proteínas animais, o foco é voltado quase exclusivamente para peixes e frutos do mar. Exemplos de peixe naturalmente mais ricos em ômega 3 (EPA e DHA) como salmão, sardinhas e atum.
  3. Os laticínios são também ingeridos de forma moderada, preferencialmente como iogurte natural, queijos menos ricos em gordura.
  4. Castanhas, amêndoas, nozes, também são fonte de gordura boa e fibras (desde que em pequena quantidade diária – por exemplo 2-3 / dia).
  5. A água entra como principal alimento, sendo comum vermos a presença do vinho (tinto) junto as refeições. Para quem já faz uso de bebida alcoólica, tenta-se restringir a uma taça ao dia, e para quem não bebe, deve-se manter abstêmio.

Abordagem Terapêutica com Medidas Farmacológicas:

Terapia Hormonal da Menopausa (THM):

O conhecimento sobre Saúde Cardiovascular da Mulher deve ser compartilhado entre os profissionais de saúde e seus pacientes, garantindo que todos estejam cientes dos fatores de risco e da importância de um acompanhamento adequado.

Aqui entramos no maior impasse. Não foi dito que o estrogênio é benéfico para a mulher, a protege de várias formas, seja no controle metabólico, melhor composicao corporal, melhor controle de glicemia e lipídeos (gorduras), sintomas vasculares e metabólicos? Na menopausa tudo só piora porque a quantidade de estrogênio cai drasticamente? Então a dúvida que fica é: não seria melhor só repor estrogênio então?

Não.

Na verdade, o estrogênio natural, tem todos esses benefícios, mas o sintético, nem tanto. Já ouviram falar que o anticoncepcional aumenta o risco de trombose? Ou conhecem pessoas jovens com trombose e embolia pulmonar onde o único fator de risco era o uso de anticoncepcional, e que após o evento a paciente foi proibida de usar anticoncepcional? Pois é, o maior culpado é o estrogênio (sintético).

A indicação formal do uso da THM é para alívio de sintomas do climatério e menopausa. Então a primeira pergunta é: Você tem muito sintoma no climatério? Ondas de calor, suor, tremores, insônia, ressecamento vaginal? Talvez para você deva ser discutido a THM, se os sintomas forem importantes, e aí uma discussão franca de caso a caso com seu Ginecologista e ocasionalmente algum outro médico que também te acompanha para chegar juntos num consenso.

A Saúde Cardiovascular da Mulher requer atenção especial, pois mudanças hormonais podem influenciar o risco de doenças. O diálogo aberto sobre esses aspectos é essencial para a saúde feminina.

Porém existem muitas restrições, já que já falamos dos riscos de piorar ou ocasionar outros problemas, dentre eles AVC, trombose, embolia pulmonar, maior chance de recidiva de tumores estrogênio-dependente (Câncer de Mama por exemplo, onde a presença do hormônio em doses altas estimula o tumor a crescer), doença hepática grave previa (distúrbios de coagulação associados).

O empoderamento das mulheres em relação à Saúde Cardiovascular da Mulher é fundamental para promover hábitos saudáveis e prevenir complicações futuras.

As recomendações atuais sobre Saúde Cardiovascular da Mulher devem incluir orientações sobre a alimentação, controle de peso e prática de atividades físicas regulares.

Em caso de THM, deve ser pensado e compartilhado uma decisão baseada no seu histórico, e na ausência de contraindicações formais. Formas orais deve ser evitado ao máximo. A forma preferencialmente, quando utilizado é a forma transdérmica (mais segura que oral).

Contraindicações a Terapia Hormonal da Menopausa ou Terapia de Reposição Hormonal

Outro fator a ser decidido é até quando devemos começar, e até quando devemos utilizar a THM.

Não há indicação de uso da terapia hormonal para prevenção de doenças cardiovasculares.

Após bem avaliado a indicação, que seria a intensidade de sintomas do climatério e menopausa (normalmente sintomas moderados a intensos e sem melhora com outras terapias convencionais de menor risco), e principalmente a ausência de contraindicação do uso, devemos atentar que:

  1. Se indicada, deve ser iniciada o quanto antes após falência ovariana
  2. Não deve ser iniciada após 10 anos do climatério / menopausa
  3. Não deve ser iniciada após 60 anos de idade
  4. Deve-se ter cuidado especial em paciente tabagista
  5. Deve-se avaliar muito bem em histórico de paciente oncológico e as contraindicações – Não há até o momento nenhuma preconização de tempo máximo de uso, devendo ser individualizado caso a caso

“Toda decisão deve ser tomada em conjunto com seu médico, e cada paciente é único. Cada estratégia deve ser levada em consideração as informações anteriores e as particularidades de cada paciente. O texto é única e exclusivamente informativo”.

E é muita coisa, não? Daria pra cuidar bem de tudo isso em 10 minutos?

Dr Rafael Rosa - Cardiologia Cardiologista

Cardiologia em Limeira – SP

O Dr. Rafael Rosa atua em Cardiologia. Você deve ser o maior conhecedor do seu corpo e dos seus problemas, e merece ser cuidado com atenção, com tempo e carinho adequados.

O Dr. Rafael Rosa atua em Cardiologia. Você deve ser o maior conhecedor do seu corpo e dos seus problemas, e merece ser cuidado com atenção, com tempo e carinho adequados.

Com experiência mista em urgência e emergência desde 2013, e atuando na área cardiológica desde 2019 nos setores da cardiologia, unidade de terapia intensiva cardíaca na Santa Casa de Limeira. Associado a isso, a união de equipe de saúde multidisciplinar do Instituto Evolução, trazendo o melhor dos dois mundos, da urgência e emergência ao consultório, contamos com o melhor para sua saúde cardiovascular e qualidade de vida.

Dieta Dash

Dieta do Mediterrâneo

Diretriz Brasileira sobre a Saúde Cardiovascular da Mulher no Climatério e na Menopausa – 2024 – SBC

Artigo sobre Hipertensão Arterial

Artigo sobre Dor no Peito e Infarto

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