Dr. Rafael Rosa

Dor no Peito, Angina, Infarto. Você sabe a Diferença?

Dor no peito é o equivalente a falar que sente dor na região do tórax. Pode ser na pele, no osso, na musculatura, nos pulmões, no coração, ou até por ansiedade ou gases no abdômen.

Dor no Peito

Angina é aquela mesma dor no peito, mas normalmente de característica de ser cardíaca, em aperto, mal delimitada quanto a localização exata, contínua, intensa, possivelmente associado a outras características descritas mais abaixo, porém sem lesão ao coração diretamente. Ela até pode ser de maior ou menor risco de causar algum dano cardíaco, mas não está causando agressão ainda.

Infarto é a dor torácica típica ou angina típica, característica cardíaca, que está causando dano ao coração e destruindo músculo. Esse quadro é o mais urgente de todos, pois devemos tentar cessar esse ano e evitar a progressão do mesmo.

E os fatores de risco? Simplemente sou azarado?

Hoje, cada vez mais existem diversos fatores na origem da dor, misturando muito as características da dor, e muitas vezes fica difícil, mesmo com a queixa típica, de diferenciar uma dor de origem cardíaca e uma dor torácica por outra origem, pois os sintomas podem confundir o paciente, e ocasionalmente até nós.

Existem muitos fatores que ajudam a influenciar e talvez faciliar aquele que talvez tenha maior chance de ser uma dor de origem realmente importante ou não.

A própria idade mais avançada é um fator de risco isolado. Quanto mais fatores somados, mais comum nos preocuparmos se a dor realmente é uma angina típica ou um momento de infarto. Aqui vão alguns mais importantes:

  1. Hipertensão arterial ou pressão alta (e aqui incluímos o fato de ter a doença e mal tratada principalmente)
  2. Diabetes Mellitus (quanto mais mal controlada, pior o risco)
  3. Tabagismo ou fumo
  4. Sedentarismo
  5. Obesidade
  6. Dislipidemia
  7. Sono mal dormido

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Aqui temos que ter em mente que todo paciente com o tempo, vai ter um certo risco de um evento cardiovascular, seja infarto, AVC isquêmico etc. Desde que seja um ser vivo, há um risco. A soma do segundo fator de risco não aumenta o risco na proporção 1+1, mas sim a cada fator associado, o risco dobra ou triplica. Logo quanto mais fatores, maior o salto acumulado no risco.

Hoje é possível com calculadoras específicas ter uma idéia de estimativa de risco baseado no seu quadro, histórico de saúde, exames laboratoriais e exame físico, pelos próximos 10 anos ou mais. E com isso tentar classificar o paciente e aplicar mudanças nos hábitos de vida ou medicamentos para reduzir esse risco e melhorar o equilíbrio em sua vida.

Quando devo me preocupar?

Todo mundo já ouviu falar sobre dor no peito com formigamento nos braços. Porém ainda muito mais comum numa síndrome coronariana aguda, é aquela dor torácica intensa, mal delimitada (normalmente não é possível localizar com o dedo) e principalmente quando os sintomas estão somados a:

  1. Suor frio
  2. Náusea / enjôo / vômito
  3. Palidez
  4. Sensação de queda de pressão ou tontura
  5. Dor irradiando para pescoço ou mandíbula
  6. Dor irradiando para ombro ou braço

Eu gosto de comentar com meus pacientes que, se eles já viram algum conhecido por exemplo com uma cólica de rim, a fisionomia do paciente com as duas dores é muito similar. A dor fica mais preocupante quando permanece por mais de 20 minutos.

Se ver alguém com uma dor torácica, de início súbito, ou que te fez acordar com a dor, associado a um desses sintomas acima, ou com aquela cara de uma cólica renal que você já viu antes, que se mantém persistente por mais de 20 minutos sem alivio: CORRA! Até que se prove o contrário, há grande chance de ser um problema real e que esteja infartando.

Um cuidado especial a alguns pacientes como diabéticos, mulheres e ocasionalmente mais idosos, a dor pode não ser tão típica assim. Outro cenário é o paciente poder ter angina típica, que só ocorre num determinado esforço físico muito intenso como fazer uma corrida, ou fazer 01h de academia, que não necessariamente o paciente vá infartar ali, mas já deve ser avaliado quanto ao risco de progressão e tentar ajustar medidas para evitá-la.

Todo Infarto é igual?

NÃO!

Um infarto é um dano ao músculo do coração, normalmente por falta de oxigênio / sangue, e o caminho mais comum é alguma artéria (coronária) que não está deixando o sangue passar por estar entupida.

Os cinco tipos de Infarto:

  1. Tipo 1 ou Instabilização de Placa: O tipo mais comum, ou mais conhecido como pensamento lógico. É ocasionado por placas ateroscleróticas e obstrução das coronárias.
  2. Tipo 2 ou por Consumo ou Desbalanço Oferta / Demanda: O gasto energético corpóreo está muito além do normal, ocasionando falta de oxigênio ou sangue no coração. Ocorre muito em situações graves, como acidentados graves, quadros infecciosos muito graves. Normalmente outros órgãos também sofrem, como rins por exemplo. Normalmente são pacientes em UTI em estado grave.
  3. Tipo 3 ou Morte Súbita: Como o nome já diz, encaixa-se como morte súbita inexplicada. Paciente com queixa típica como mal estar torácico, angina pectoris típica, porém não houve tempo hábil para ser atendido ou diagnosticado o infarto e dado sequência. Evolui com óbito antes de atendimento. Ocasionalmente ocorre durante prática de esportes.
  4. Tipo 4 ou Relacionado a Angioplastia: Embora a colocação de stent para correção de uma obstrução por aterosclerose seja um procedimento normalmente de baixo risco, não é livre de complicações. Pode haver complicação durante o procedimento como dissecção de coronária. Pode haver trombose de stent, o mais comum é por deixar de usar as medicações pós angioplastia. Pode haver reestenose do stent (sim, o stent tem um risco de fechar com o passar dos anos).
  5. Tipo 5 ou Relacionado a Cirurgia Cardíaca: Também relacionado ao procedimento e pós operatório. Existe um risco além do procedimento em si, há a possibilidade de espasmo do enxerto, e por exemplo perda do vaso enxertado, além de todo o risco relacionado a circulação extracorpórea e quado metabólico do pós operatório.

Porém num infarto tipo 1 pode haver a grosso modo uma obstrução ou entupimento parcial dessa artéria (por exemplo 70-80-90%), que pode ser suficiente para não chegar a quantidade de sangue ideal quando o músculo precisar, ou pode essa artéria estar 100% entupida.

Aterosclerose Coronariana

Quanto maior a lesão, normalmente pior. Causa mais dano, maior o estrago.

Outro cenário que vem tomando muito campo são os infartos sem artéria entupida ou ANOCA (angina sem obstrução coronária) ou INOCA (infarto sem obstrução coronária).

Coronárias normais: imagem de Micro e Macrocirculação

Temos outros mecanismos para causar dano como Microcirculação, Cardiomiopatia Hipertrófica, Síndrome de Takotsubo, Angina de Prinzmetal, Doenças Valvares e Ponte Miocárdica por exemplo, onde as artérias coronárias podem estar normais, mas ainda assim haver angina ou infarto.

Por outro lado também podemos ter uma artéria totalmente ocluída, mas sem dano importante perceptível ao músculo, por esse local estar sendo mantido vivo por outros ramos arteriais mais finos e próximos, como circulação colateral.

Causas de dor no peito sem obstrução coronária

Estou tendo Dor no Peito ou já Infartei. E agora, o que pode acontecer?

No caso da angina, há um caminho via consultório mesmo. Avaliar o risco de ser algo real. Exames e testes para induzir a angina e avaliar se é cardíaca. Exames pra avaliar se há realmente alteração no fluxo de sangue coronário que esteja em falta no coração e tentar melhorar, seja com medicamentos, com angioplastia (implante de Stent ou Cirurgia de Revascularização Miocárdica).

Angioplastia coronária

Se você já teve um infarto, os sintomas mais comuns ou consequência é o cansaço, falta de ar e sintomas de insuficiência cardíaca. Quanto maior o dano, maior a probabilidade de um dano irreversível, e maior a probabilidade e intensidade dos sintomas posteriores que poderão vir a acontecer.

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“Também dá pra viver assim”

Posso ter um infarto e ficar “muito bem, obrigado”?

Sim. Em casos de infarto de artérias pouco comprometidas, ou que teve um resgate / atendimento rápido e não houve muito tempo sem oxigênio no músculo cardíaco, pode acontecer de se manter uma vida normal após.

Há de se alertar que em todo paciente já infartado, já houve um dano, por menor que seja. Há então o cuidado posterior de tentar reduzir o máximo os fatores de risco para evitar um novo evento. Manter pressão, diabetes, colesterol mais bem controlado, parar de fumar, ser mais ativo.

Muitos pacientes passam pelo infarto, ocasionalmente fazem angioplastia ou colocação do stent por exemplo, reestabelecendo o fluxo sanguíneo na coronária, e daqui a um ou dois anos cessam o tratamento preconizado. É preciso ter em mente que todo o caminho (fatores de risco) que ocasionou o estágio final do problema (o infarto), se não controlados ainda melhor, causarão no futuro um novo infarto.

De uma forma muito simples seria algo como:

“Você já não cuidou antes e viu no que deu. Vai arriscar não cuidar denovo? O que acha que vai acontecer com uma questão de tempo?”

Todas essas ações não anulam o risco de um novo evento, mas diminuem. E na maioria das vezes diminuem muito, em mais de 50% o risco de um novo infarto por exemplo. Desde que mantenha tratamento medicamentoso e mudanças nos hábitos de vida.

Como se proteger ou evitar um Evento Coronariano ou Infarto?

Sim. É possível, não em todos os casos, mas em muitos sim.

A investigação da angina em um paciente já com moderado ou alto risco de um evento cardíaco, estratificação de risco pelo histórico do paciente, mudança de hábitos de vida, avaliações regulares, tudo isso faz sentido.

Existem também padrões eletrocardiográficos de alto risco que podem sugerir haver uma lesão grave, antes de acontecer realmente o infarto. E podemos atuar nela antes do estrago ser feito.

Já Infartei e ouvi dizer que agora não posso fazer mais nada. E agora?

Essa é uma informação na grande maioria das vezes equivocada. Claro, cada caso é um caso.

A atividade física por si só, seja ela aeróbica ou resistida, reduz riscos de eventos cardiovasculares. Por que você deveria parar?

Claro que após um evento, há um período de repouso, recuperação e readaptação. Há de se avaliar o tamanho do dano. Como esse coração ficou, se foi revascularizado (angioplastia ou cirurgicamente). Se evoluiu com insuficiência cardíaca, e principalmente o grau da mesma, antes de querer voltar a academia ou a atividade física.

Existem planos e formas de reabilitação para todos os cenários, adaptando e individualizando cada paciente. Normalmente e preciso primeiro medicar o paciente, estabilizar o quadro e programar reabilitação de acordo com cada cenário, seja com atividade física liberada, supervisionada ou até supervisionada com limitação.

“Toda decisão deve ser tomada em conjunto com seu médico, e cada paciente é único. Cada estratégia deve ser levada em consideração as informações anteriores e as particularidades de cada paciente. O texto é única e exclusivamente informativo”.

E é muita coisa, não? Daria pra cuidar bem de tudo isso em 10 minutos?

Dr Rafael Rosa - Cardiologia Cardiologista

Cardiologia em Limeira – SP

O Dr. Rafael Rosa atua em Cardiologia. Você deve ser o maior conhecedor do seu corpo e dos seus problemas, e merece ser cuidado com atenção, com tempo e carinho adequados.

O Dr. Rafael Rosa atua em Cardiologia. Você deve ser o maior conhecedor do seu corpo e dos seus problemas, e merece ser cuidado com atenção, com tempo e carinho adequados.

Com experiência mista em urgência e emergência desde 2013, e atuando na área cardiológica desde 2019 nos setores da cardiologia, unidade de terapia intensiva cardíaca na Santa Casa de Limeira. Associado a isso, a união de equipe de saúde multidisciplinar do Instituto Evolução, trazendo o melhor dos dois mundos, da urgência e emergência ao consultório, contamos com o melhor para sua saúde cardiovascular e qualidade de vida.

Informações de Confiança: SBC – Doença Isquêmica na Mulher

Informações de Confiança: SBC – Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio

Cartilha SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo

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